domingo, 20 de setembro de 2009

Raízes

"As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: "Se te libertas morres!". As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não."
(Amin Maalouf, Origens)

N.A.: Será que não precisamos das nossas raízes?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

40 anos de Internet

A Internet está de aniversário. São 40 anos! Para quem quiser saber mais sobre a história da rede mundial de computadores, pode acessar uma reportagem com infográfico sobre o assunto na Zero Hora online de hoje - http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=economia&newsID=a2647490.xml

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Questão de cor

Um amigo nosso, ítalo-brasileiro, ligou para uma senhora italiana para ver sobre um imóvel que ela tinha para alugar. Primeiro ela perguntou se ele e sua mulher trabalhavam. A pergunta seguinte foi: “Siete di colore?” (Vocês são de cor?). Ele me contou o acontecido e eu caí na risada. Então eu disse: “Por que não perguntou à senhora se, por acaso, ela era transparente?”

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Imigrantes na Itália

Em relação ao post anterior, é preciso acrescentar que a imigração é um assunto polêmico na Itália. Em alguns casos é possível entender (não aceitar, é claro) o preconceito que alguns italianos têm contra os estrangeiros.
A maioria dos que chegam ao país não possui trabalho e nem a situação legal de documentação. Ou seja, são sinônimo de problema para o governo italiano.
Na semana passada, quase 100 somalis se arriscaram no mar com um bote, na tentativa de atravessar o mar entre o país africano e o sul da Itália. (Conforme noticiou a imprensa italiana).
Cada vez mais, principalmente nas grandes cidades, vemos pedintes nas ruas, um contraste com as belezas do país.

Testemunho de preconceito

Ontem fomos visitar uns amigos brasileiros, num bairro não muito distante do centro de Verona. Como ainda estamos sem o nosso meio de transporte oficial (bicicletas rsrsrsrsr), fomos de ônibus. Na ida, entre tantos estrangeiros, entrou um rapaz negro que provavelmente era de algum país da África. Conversava com um cara de outra etnia algumas poucas palavras em um italiano sofrível.
Na volta, pegamos o mesmo ônibus, que fez uma pausa no final da linha. Depois de uns instantes esperando, chegou o mesmo rapaz africano, com uma sacola de plástico na mão e uma TV dessas antigas, umas 20 polegadas, que carregava sobre a cabeça.
Quando ele foi entrar no ônibus, o motorista disse “no” e sinalizou com a mão e a cabeça negativamente (devia saber que o rapaz não falava italiano). O rapaz então disse “biglietto” (dando a entender que pagaria pela viagem). Mas o motorista permaneceu irredutível. O africano ainda tentou dizer “What’s the problem?”, mas nada, não poderia entrar com o aparelho.
Eu e o Marcos, meu marido, permanecemos olhando, espantados. Mas o que poderíamos fazer, nós, brasileiros, diante da situação? O rapaz sentou num banco, onde havia largado a televisão, e lá permaneceu até o ônibus partir, com um ar de interrogação e tristeza.
O que revolta é que, todos os dias, muitos italianos e estrangeiros entram no ônibus com mochilas gigantes, e nada acontece. De duas uma: ou o africano ia levar a TV na cabeça, chegando em casa tarde da noite, ou a deixaria ali, naquele banco, e passaria quem sabe mais quanto tempo sem um dos poucos entretenimentos que a Itália poderia lhe oferecer.

Algumas considerações sobre a dissertação

Segue o resumo da versão final da dissertação (junho/2010), que sofreu algumas modificações ao longo do percurso inicial (vou continuar deixando o texto na sequencia abaixo, como recordação das ideias do início da pesquisa):

Esta pesquisa compreende o ciberespaço como um elemento de territorialização no cenário dos novos fluxos migratórios globais, focalizando, em especial, os usos que brasileiros residentes na Itália fazem dos blogs. Recorre-se à abordagem interpretativa, através da netnografia, para pensar as representações de regionalidade e identidade assumidas pelos sujeitos no espaço virtual.

Ideias iniciais:

Atualmente, desenvolvo uma pesquisa com o título provisório de “Representações de identidades em blogs de brasileiros de origem italiana que residem na Itália”, sob orientação do Prof. Dr. Rafael José dos Santos. Este trabalho é requisito parcial para obtenção do título de Mestre em “Letras, Cultura e Regionalidade”, da Universidade de Caxias do Sul.
A ideia para a pesquisa de representações de identidades surgiu após um período de quase dois anos em que morei na Itália. Vivendo a realidade de imigrantes brasileiros, a maioria deles descendentes de italianos, comecei perceber alguns jogos de identidades, como brasilidade e italianidade. Levamos a questão para o ambiente virtual, onde também percebemos a formação de novas regionalidades entre esses brasileiros, que muitas vezes não se conhecem, mas que se relacionam por meio dos blogs.
Para estudarmos a realidade atual dos brasileiros de origem italiana que vivem na Itália, é preciso analisar fatos que iniciaram há quase dois séculos atrás. A Itália, na época recém unificada, vivia momentos difíceis. E o Brasil, com suas grandes extensões de terra, precisava ser povoado. Diante desse cenário é que aconteceu o processo migratório de italianos para o Brasil.
Hoje, os fluxos migratórios não tem mais o caráter de povoamento. Outros fatores ganharam importância. Depois dos anos 80, o processo de globalização desencadeou mudanças significativas na sociedade contemporânea. As fronteiras menos rígidas, a mobilidade entre países mais acessível, o aumento das desigualdades sociais e a necessidade da busca por trabalho, são apenas alguns dos motivos que levaram e, ainda levam, milhões de pessoas a trocar de país.
Nesse contexto estão os brasileiros de origem italiana que, influenciados pelo sonho de uma “nova vida” partem para a terra dos seus antepassados. É o que eu chamo de “la Cuccagna
[1] ao contrário”. Grande número parte com o desejo de concretizar a “Cidadania Italiana” e gozar de todos os privilégios que eles acreditam encontrar na Itália.
No Brasil, principalmente onde se desenvolveu a colonização italiana, o espírito de italianidade é muito forte. Há quem diga que “é italiano”, pelo simples fato de ser descendente. O mercado turístico também costuma vender diversas regiões como “um pedacinho da Itália”.
Na minha cidade, Caxias do Sul, que fica no Sul do Brasil, a cada dois anos temos a “Festa Internacional da Uva”. É uma das maiores festas populares do país. Temos também centenas de festas como aquelas dos “paesi
[2]”, em que se preservam os costumes típicos italianos, através da culinária e da música, por exemplo. Em Caxias e região, se preserva e se enaltece os costumes da Itália da época da imigração.
Pela experiência pessoal que tive na Itália e pela análise inicial dos conteúdos dos blogs dos brasileiros de origem italiana que residem na Itália, foi possível perceber que esses brasileiros, quando viajam para o país dos seus antepassados, têm um certo choque de identidade.
Nem tudo é como se pensou. A italianidade, talvez, deixe de ter aquele brilho que tinha no Brasil. Começam a surgir as dificuldades, muitos chegam sem o processo de Cidadania Italiana pronta, além de uma série de outras questões como discriminação e saudade da família.
Parece que, a partir desse momento, esses brasileiros passam a assumir uma brasilidade que até então não exerciam. O teórico Stuart Hall (no livro “Identidade cultural na pós-modernidade”, 1992) trabalha bem essa questão dos jogos de identidades. Acionamos diferentes identidades conforme melhor nos convém.
Nós transferimos esse foco de estudo para os blogs, que são meios concretos de manifestações e representações de identidades. Na nossa pesquisa, as novas tecnologias da informação também são estudadas. A internet é uma possibilidade interessante para entender aquilo que se passa na sociedade.
Devido ao seu caráter de representatividade social, a internet tornou-se meio para pesquisas acadêmicas de relevância. Hoje, se fala em etnografia do ambiente virtual, ou “Netnografia”. Os conhecimentos da antropologia social podem muito bem ser utilizados na rede mundial de computadores. Afinal, a internet é, salvo algumas exclusões, um ambiente bastante democrático, em que diferentes camadas sociais estão representadas.
Os blogs são um exemplo disso. Qualquer pessoa, com o mínimo de conhecimento de informática, pode, gratuitamente, manter uma página pessoal na internet. Na nossa pesquisa, procuramos entender como os brasileiros de origem italiana utilizam a internet para representar suas identidades. Não temos um número exato, mas sabemos que centenas desses brasileiros mantêm um blog.
Essa perspetiva antropológica da análise dos blogs está sendo realizada sob a luz de um reconhecido antropólogo: Clifford Geertz. Em seu livro “A interpretação das culturas”, de 1973, revolucionou os estudos culturais. Geertz foi um divisor de águas ao propor uma análise interpretativa da cultura, através de uma descrição densa.
Acreditamos que a pesquisa que estamos executando é de grande relevância para os estudos culturais contemporâneos, no auxílio do entendimento de questões como pluralidade de identidades, desterritorialização e culturas híbridas. Questões que se apresentam pertinentes hoje e que, cada vez mais, deverão pautar os interesses acadêmicos.

[1] Cuccagna (cocanha) significa a utopia de um lugar onde há fartura de comida e bebida, um lugar onde não é preciso trabalhar, uma espécie de “paraíso”.
[2] Paese é o nome que se dá na Itália para as pequenas cidades, que ainda preservam costumes antigos.