terça-feira, 8 de setembro de 2009

Testemunho de preconceito

Ontem fomos visitar uns amigos brasileiros, num bairro não muito distante do centro de Verona. Como ainda estamos sem o nosso meio de transporte oficial (bicicletas rsrsrsrsr), fomos de ônibus. Na ida, entre tantos estrangeiros, entrou um rapaz negro que provavelmente era de algum país da África. Conversava com um cara de outra etnia algumas poucas palavras em um italiano sofrível.
Na volta, pegamos o mesmo ônibus, que fez uma pausa no final da linha. Depois de uns instantes esperando, chegou o mesmo rapaz africano, com uma sacola de plástico na mão e uma TV dessas antigas, umas 20 polegadas, que carregava sobre a cabeça.
Quando ele foi entrar no ônibus, o motorista disse “no” e sinalizou com a mão e a cabeça negativamente (devia saber que o rapaz não falava italiano). O rapaz então disse “biglietto” (dando a entender que pagaria pela viagem). Mas o motorista permaneceu irredutível. O africano ainda tentou dizer “What’s the problem?”, mas nada, não poderia entrar com o aparelho.
Eu e o Marcos, meu marido, permanecemos olhando, espantados. Mas o que poderíamos fazer, nós, brasileiros, diante da situação? O rapaz sentou num banco, onde havia largado a televisão, e lá permaneceu até o ônibus partir, com um ar de interrogação e tristeza.
O que revolta é que, todos os dias, muitos italianos e estrangeiros entram no ônibus com mochilas gigantes, e nada acontece. De duas uma: ou o africano ia levar a TV na cabeça, chegando em casa tarde da noite, ou a deixaria ali, naquele banco, e passaria quem sabe mais quanto tempo sem um dos poucos entretenimentos que a Itália poderia lhe oferecer.

Um comentário:

  1. Pois è Juliana, que eu saiba nao existe nenhuma lei que proibe uma pessoa de entrar com uma TV ou uma mala de 32 kg em um onibus. Para mim daria no mesmo! O problema é que nao sabemos quais sao EXATAMENTE OS NOSSOS DIREITOS e os italianos se aproveitam disso.

    Eu morei em Trento, uma cidade bem pròxima a Verona. Eles se dizem ricos e educados, mas tambem nao negam seu racismo e preconceito. Eu nao consigo entender a ligaçao entre EDUCACAO E RACISMO, PERò...

    Morei ali por um ano, em que tentei usufuir de tudo o que o Comune poderia oferecer, para suprir os desaforos que aquela italianada nos fez passar.

    A maior parte dos meus amigos gosta muito de Trento, pelos beneficios $$ que a cidade dispoe, no entanto o racismo deles chega a tal ponto que nao se "salutam" entre eles e nem ao menos se consideram italianos. Ja os ouvi dizendo com a boca cheia EU SOU TRENTINO...

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